Wednesday, February 08, 2006

Rui Cartaxana Sobre o Quinhentes

Rui Cartaxana Sobre o Quinhentes

"Um candidato e pêras"

Na crise da Liga, um inesperado homem do futebol se perfila como candidato a presidente. Para já tem um estádio de futebol com o seu nome e é acusado de corrupção activa no processo Apito Dourado. Ouça-o e conheça-o um pouco

1. SE EM ONZE ANOS COMPREI UM ÁRBITRO? Um leitor da Madeira, que pede reserva de identidade, envia-me o texto de uma longa entrevista dada pelo presidente do Nacional, e agora candidato a presidente da Liga de Clubes, agente técnico Rui Alves, e convida-me a dar uma opinião precisamente sobre a sua candidatura ao organismo máximo do futebol profissional. Se já era complicado falar sobre alguém que, entre outras habilidades, fez demasiado rapidamente uma grande fortuna, deu o seu próprio nome ao estádio de futebol do clube a que preside e de que é dono, e convive com isso, mais complicada ficou tal tarefa após ter lido esta surpreendente entrevista. Depois de reconhecer que foi indiciado num crime de corrupção activa, constituído arguido do caso Apito Dourado e ouvido com base numa escuta telefónica de uma conversa sua com o empresário António Araújo, ligado a Pinto da Costa e ao FC Porto, RA é posto pelo entrevistador perante um alegado antecedente e responde: "Diria que, se comprei um árbitro nos 11 anos que levo como dirigente, devo ser um santo?"

2. VAMOS "TRABALHAR" O ÁRBITRO SIGNIFICA O QUÊ? O entrevistador questiona o candidato à Liga de Clubes: "Está a dizer-me que se compram árbitros?" RA dá uma de culto e responde: "Você vive numa sociedade que tem valores culturais pelo que não vou dizer-lhe que não nem que sim. Vou aceitar como provável, mas não no meu caso, porque senão o Nacional nunca tinha descido de divisão?" Na conversa com o empresário Araújo – insiste o entrevistador – o senhor fala em "trabalhar o árbitro?" RA diz que sim, o entrevistador pergunta: "E tem uma explicação plausível para isso?" RA não se perturba: "É claro! Repare, se eu disser 'vamos trabalhar o árbitro' aos meus jogadores, isso significa o quê: você tenha atenção que esse árbitro tem esta característica; não se pode falar com ele, não se pode entrar de lado com violência."

3. Mas demos de barato os diversos atentados de RA à língua de Camões – com 16 estrangeiros e apenas 2 portugueses no plantel, ele não deve ter muitas preocupações desse tipo – e vejamos como é que o homem explica a "errada" leitura que a PJ faz das suas palavras: "Naturalmente que os portugueses do continente dão, a certas expressões e palavras, uma interpretação diferente daquela que nós, madeirenses, damos." E só para terminar, a sua emérita tese sobre a filosofia de actuação da PJ: "Independentemente do trabalho que tem de ser feito ao nível da investigação, a PJ tem esse poder, para através de 'reality shows' que cria (sic) passar para a opinião pública uma determinada condenação de uma ou mais pessoas."

Caro leitor: está aí um candidato e pêras!
Carta do Leitor no DN

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